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Nota de solidariedade ao povo ka’apor em luta

O CCLA apoia a luta por autodefesa e autonomia do povo ka’apor

O Centro de Cultura Libertária da Amazônia – CCLA quer, mediante esta nota de solidariedade, manifestar o seu total apoio a luta do povo ka’apor contra os inimigos, que nós, anarquistas amazônidas, também enfrentamos e denunciamos como responsáveis pela destruição do ambiente amazônico e o extermínio povos que cuidam e habitam a floresta.

Um primeiro inimigo que denunciamos é o Estado Brasileiro e seus órgãos, como a FUNAI e SESAI, que têm como missão oficial acolher e atender as demandas dos povos indígenas, mas na prática acaba funcionando para servir aos interesses daqueles que querem matar e destruir para a exploração comercial dos recursos da floresta. Ao Estado Brasileiro contra a floresta, juntam-se os inimigos estrangeiros. Estados como o Canadá, Reino-Unido, França, Austrália criam com o Brasil acordos comerciais e leis internacionais que beneficiam as empresas nacionais e estrangeiras na exploração dos recursos minerais, vegetais e animais. É a legalização da morte e destruição.

Lucros incessantes! Esse é o objetivo dos inimigos da floresta e do povo ka’apor.  Por conta da busca desse lucro infinito é que afirmamos que esses algozes nunca vão parar. A floresta e os povos da floresta vão continuar sobre ataques até que eles consigam explorar e consumir o último centímetro quadrado das terras que pertencem aos povos originários. Temos que destacar que depois da exploração dos recursos, o que sobra é um lastro de destruição e contaminação por mercúrio e agrotóxicos. Corpos, terra e água, condenados a viver contaminados pela atividade do agronegócio e garimpo legal e ilegal.

A nossa luta passa por denunciar a narrativa que trata as terras da floresta amazônica como pertencentes ao Estado Brasileiro e que num gesto de bondade “doa” aos povos indígenas. Essas terras são dos que sempre viveram e cuidaram dela. A História, o pertencimento, os laços afetivos e culturais que dão o Direito oficial aos ka’apor e outros povos como verdadeiros donos da floresta. Se continuarmos a aceitar a narrativa que a terra é do Estado brasileiro, nossos inimigos cederão tudo à exploração comercial e deixarão as populações desamparadas, órfãs da sua relação com uma natureza que está sendo constantemente violentada pelo branco e a sua ganancia.

Nesse contexto de constante ataque, é que surge a importância dos associados do CCLA manter uma relação ativa de solidariedade concreta com o povo ka’apor. Esse povo com sua sabedoria e vivencia nos mostra o caminho para ser percorrido para uma contraofensiva depois de um longo tempo dedicado à defesa. É tempo de ataque. A omissão do Estado e a exploração destrutiva do capitalismo têm que parar. A reação não tem como objetivo fazer vítimas físicas entre os inimigos, apesar das mortes do lado de cá. Temos que copiar o belo, temos que copiar a luta do povo ka’apor que apesar de tudo nunca teve uma atitude de aceitação pacífica e passiva dos delitos e prejuízos dos quais foram vítimas.

O CCLA se põe ao lado dos ka´apor e apoia a organização pela autodefesa territorial dos povos e comunidades tradicionais. Nos colocamos a disposição para defender a máxima autonomia e organização da vida nesses territórios e que os povos e as suas lideranças determinem por si só quais são as suas necessidades. Dedicaremos tempo e energia para apoiar a autogestão dos ka´apor nas ações que visem atender suas necessidades e no respeito as decisões e diretrizes estabelecidas pelos interessados.

Expressamos o nosso mais profundo respeito e admiração pelo povo ka’apor e Tuxa Ta Pame e sua organização coletiva ancestral. Admiramos toda beleza e força da resistência desses povos, contra inimigos números e perigosos.

Nós, anarquistas organizados, nos inspiramos na luta pela manutenção da vida coletiva tradicional que é respeitosa ao meio ambiente e ao indivíduo. Nos inspira também o modo de vida com mínima relação com o veneno do dinheiro do Branco. Que todos se inspirem na organização coletiva que tem a igualdade e a liberdade como fundamentos, não proclamados, mas vivenciados a cada dia.

Por fim, o CCLA reafirma apoio incondicional e sem restrição à luta do povo ka’apor por autodefesa territorial e autonomia organizacional. Foi em nome desse apoio que acolhemos uma delegação de lideranças e guerreiros ka’apor entre final 2023 e janeiro de 2024. Nossa disposição e ajudar a luta concretamente e por todos os meios que estiverem em nosso alcance.

Viva a luta do povo ka’apor! Vida longa ao Tuxa Ta Pame! Viva o anarquismo organizado! Viva o CCLA!