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Por um 1° de Maio anarquista

O CCLA chama toda a galera de Belém e arredores a estar presente no dia 27/04/2024 às 17h no local para presenciar e participar de uma reunião importante sobre o ato do 1° de Maio.

O dia em que tod@s devemos nos organizarmos para realizar uma demonstração de força e de organização da classe trabalhadora.

Às 9h da manhã do dia 1° de Maio, estaremos presentes com faixas e bandeiras às cores do CCLA pelo ato.

Em seguida, em torno da uma da tarde, teremos evento no CCLA com grafitagem ao vivo com comidas veganas, bebidas, falas, banquinha libertária, etc.

Também terá palco aberto durante a tarde.

Portanto não faltem quarta-feira!

 

Aqui nossa reflexão sobre o 1° de Maio:

 

As raízes anarquistas do 1° de maio.

Dê a essas pobres criaturas o suficiente para satisfazer a sua fome e garantirei um período tranquilo em que todas as grandes questões de terra, salários e direitos possam ser postas em prática sem mais derramamento de sangue […] Deve ser a liberdade para o povo ou a morte para os capitalistas. […] Não dormi, nem dormirei até dormir o sono da morte, ou até que meus semelhantes estejam no caminho da liberdade[i].

Albert R. Parsons

Carta ao editor do Daily News em 7 de maio de 1886.

 

 

Será que esta nova geração sabe que aqueles que inauguraram a jornada de oito horas foram condenados à morte sob o comando do capital?

 

Lucy E. Parsons

em The Haymarket Martyrs, novembro de 1926.

 

Por que o 1° de maio?

Chegamos a mais um 1° de maio, mais um dia de luta da classe trabalhadora e de todo setor subalternizado das/dos de baixo. Uma data para não esquecermos suas origens e seu significado. Em 1886 operárias e operários dos Estados Unidos paralisaram centenas de fábricas e exigiram redução da jornada de trabalho para oito horas por dia. Naquela época eram submetidos a extenuantes 12, 14, 16 horas diárias, sob péssimas condições em seus locais de trabalho, com exploração de mão-de-obra infantil, desigualdade salarial entre mulheres e homens, acentuado pelos baixíssimos salários pagos que não garantia as mínimas condições de reprodução social da classe trabalhadora. As reivindicações deflagradas por aquele movimento, dadas as devidas proporções, não se distanciam das lutas travadas hoje.

Não podemos esquecer que a luta desenvolvida por mulheres e homens em rebeldia que deram origem ao 1° de maio, tem forte orientação ideológica do anarcossindicalismo, como também do sindicalismo revolucionário. No século XIX, particularmente em sua segunda metade, as economias dos países do norte global, destaque para os da Europa e Estados Unidos, passaram por profundas transformações. Vários ofícios como artesanato, marcenaria/carpintaria, tipografia, alfaiataria, sapataria e, inclusive, a agricultura foram muito influenciados por esse novo momento de transformação. O acelerado desenvolvimento industrial dos Estados Unidos e, por conseguinte, a formação de uma robusta massa operária que se aglomerava nas cidades, teve como consequência a organização de trabalhadoras e trabalhadores em sindicatos, a greve geral como ferramenta de luta contra a desigual correlação de forças frente aos patrões, com objetivo de criar direitos e amparos sociais a classe trabalhadora como fruto dessas transformações.

À época, os ideais anarquistas já se faziam presentes em solo americano e foram fortalecidos pelo congresso de fundação, na cidade de Pittsburgh em 1883, da International Working People’s Association (IWPA), expressão de massas anarquista que chegou a ter 2.500 militantes e 10 mil colaboradores (1). Entre seus fundadores, podemos destacar duas mulheres: Lucy Parsons, negra, trabalhava como costureira foi uma das fundadoras do jornal Alarm órgão de propaganda do IWPA, incorporando a pauta das mulheres e das negras e negros, bem como, Lizzie Swank Holmes editora assistente do mesmo jornal, ambas tiveram um papel decisivo na organização operária de Chicago, assim como outras mulheres. O programa mínimo da IWPA redigiu dois, dos seus seis pontos, à igualdade entre os sexos: “Quarto – Organização da educação numa base secular, científica e igualitária para ambos os sexos. Quinto – Direitos iguais para todos, sem distinção de sexo ou raça” (2). Essa influencia foi tão forte que Emma Goldman, Voltairine de Cleyre e Kate Austin tornaram-se anarquistas logo após a revolta de Haymarket (3).

Em 1885, uma convenção em Chicago, com presença de delegação de trabalhadores do Canadá, aprovaram uma resolução apelando aos trabalhadores estadunidenses e canadenses a se juntarem em uma exigência de redução das horas de trabalho para oito por dia, a partir de 1° de Maio de 1886 (4). Assim, começa a se formar um movimento sindical por oito horas. Em 1886, uma semana antes do primeiro de maio, a IWPA organizou uma manifestação de aproximadamente 25.000 pessoas em Chicago, na qual Albert Parsons (liderança sindical e militante anarquista) colocou a questão das oito horas no contexto da luta de classes (5). Na semana seguinte, os sindicatos norte-americanos chamaram uma greve geral para o primeiro de maio, desencadeando greves por várias cidades, por exemplo, Nova York, Detroit, Louisville, Kentucky, Baltimore, Maryland, e em Chicago contou com maior número entre 80 a 90 mil trabalhadores rebelados. Ao todo cerca 200.000 trabalhadores, em luta por jornada de trabalho mais curta, paralisaram mais de mil fábricas (5).

A Revolta de Haymarket e os mártires de Chicago

No dia 3 de maio, as manifestações seguiam em diversos locais. Em Chicago, August Spies (liderança sindical e militante anarquista), imigrante alemão, trabalhador de tipografia e editor do periódico Arbeiter-Zeitung discursava para milhares de pessoas quando ocorreu um conflito com centenas de policiais, onde seis manifestantes morreram, outros ficaram feridos e dezenas foram presas. No dia seguinte, vários sindicatos, sobretudo anarcossindicalistas, convocaram um protesto na Praça Haymarket, antigo mercado de feno de Chicago. Vários anarquistas discursavam nesse dia quando uma forte repressão policial foi instalada, em meio ao conflito uma bomba explodiu, matando sete policiais e ferindo outras dezenas. Até hoje não se sabe a autoria do atentado, entretanto, há evidências de que a bomba pode ter sido lançada por um agente policial como parte de uma conspiração envolvendo certos patrões do aço para desacreditar o movimento operário (6). Em meio à confusão, a polícia abriu fogo contra os manifestantes matando mais pessoas.

 A partir de então, passou a ocorrer perseguição e prisão dos envolvidos direta ou indiretamente ao movimento, como as lideranças eram na maioria anarquistas, foram estes os primeiros a serem perseguidos, dentre eles: George Engel, Adolph Fischer, Samuel Fielden, Albert Parsons, Louis Lingg, Michael Schwab, August Spies e Oscar Neebe. Dos acusados, quatro (Parsons, Spies, Fischer e Engel) foram mortos por enforcamento em novembro de 1887, depois de um julgamento arranjado e cheio de erros, onde não se provou efetivamente nada contra os acusados. Lingg, que também tinha sido condenado à forca, foi encontrado morto um dia antes do enforcamento, na prisão (7). Segundo as autoridades a causa foi suicídio, porém até hoje não há provas cabíveis que corroborem com a explicação. Schwab e Fielden a princípio condenados à morte tiveram suas penas convertidas em prisão perpetua depois de grandes protestos. Anos depois, em 26 de junho de 1893, um novo governador do estado de Illinois, John P. Altgeld, os considera inocentes pelos crimes de que estavam sendo acusados (6). Como um importante fato na história do operariado mundial, esses militantes injustiçados ficaram conhecidos como Os Mártires de Chicago.

 Um fato curioso, no momento do atentado a bomba, sabendo que algo terrível havia acontecido, Lizzie pediu a Albert que deixasse a cidade naquela noite e avaliasse à distância a situação e a segurança de seu retorno. Lucy foi para casa com as crianças, enquanto Lizzie acompanhou Albert até a estação de trem e comprou sua passagem. Albert foi para Genebra, Illinois, para a casa de William e Lizzie Holmes, e Lizzie voltou para o apartamento dos Parsons na cidade para passar a noite com Lucy (2). No dia do julgamento, Albert Parsons se entregou voluntariamente e proferiu um discurso (7) que ainda hoje ressoa a persistência do seu ideal anarquista e da força da classe trabalhadora:

você acredita que quando nossos cadáveres forem jogados na cova, tudo acabará? Você acredita que a guerra social acabará nos estrangulando barbaramente? Bem, você está muito enganado. Sobre o seu veredito recairá o do povo americano e do povo de todo o mundo, para demonstrar a sua injustiça e as injustiças sociais que nos levam ao cadafalso”.

O 1° de maio passou a ser uma data mundialmente lembrada como um dia de luta da classe trabalhadora em 1891, após o primeiro congresso da II Internacional de 1889.

 

Textos consultados

  1. Site da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB). O Anarquismo, o Massacre de Haymarket e os Mártires de Chicago. Você pode ler em: https://cabanarquista.org/o-anarquismo-o-massacre-de-haymarket-e-os-martires-de-chicago.
  2. Carolyn Ashbaugh. Women in the Haymarket Event. Você pode ler em: https://theanarchistlibrary.org/library/carolyn-ashbaugh-women-in-the-haymarket-event.
  3. Carolyn Ashbaugh Radical Women: The Haymarket Tradition. Você pode ler em: https://theanarchistlibrary.org/library/carolyn-ashbaugh-radical-women-the-haymarket-tradition.
  4. Alan Dawley. The International Working People’s Association. Você pode ler em: https://theanarchistlibrary.org/library/alan-dawley-the-international-working-people-s-association.
  5. Lucy E. Parsons. The Haymarket Martyrs. Você pode ler em: https://theanarchistlibrary.org/library/lucy-e-parsons-the-haymarket-martyrs.
  6. libcom.org. A Short History of May Day. Você pode ler em: https://theanarchistlibrary.org/library/libcom-org-a-short-history-of-may-day#toc7.
  7. Lucy E. Parsons Life of Albert R. Parsons With brief history of the labor movement in America. Você pode ler em https://theanarchistlibrary.org/library/lucy-e-parsons-life-of-albert-r-parsons.

Sobre as imagens que ilustram o texto, foram retiradas do livro The rise and fall of anarchy in America. Do autor George N. McLean (1888).

 

 

[i] Retirado do livro The rise and fall of anarchy in America. Do autor George N. McLean (1888).